quinta-feira, 29 de abril de 2010

Assista ao vídeo e leia a letra da música Tropicália, de Caetano Veloso.


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O Crepúsculo dos Ídolos

cadernos Nietzsche 3, p. 77-91, 1997
Ler Nietzsche:
*
Mazzino Montinari
Resumo: Partindo do pressuposto de que toda interpretação filosófica de
Nietzsche deve ter por base um trabalho filológico-histórico, o presente artigo
visa a fazer uma apresentação do Crepúsculo dos ídolos. Nesta perspectiva,
reconstrói-se a gênese do livro do interior do projeto da Vontade de potência
para, enfim, concluir que, do ponto de vista filosófico, Crepúsculo dos ídolos
mostra que é através do pensamento do eterno retorno que a superação da
metafísica pode se realizar.
Palavras-chave: filologia – história – vontade de potência – eterno retorno
1. Em 3 de setembro de 1888, em um esplêndido, o mais belo dos
dias que Nietzsche vira em Sils-Maria, na Engadina – “uma força luminosa
de todas as cores, um azul no lago e no céu, uma claridade do ar,
totalmente inesperada” – ele escreveu o Prefácio da “Transvaloração de
todos os valores”. Nas semanas anteriores, sua vida se desorganizara;
impulsionado pelo espírito, acordava muitas vezes às duas da madrugada
e anotava o que antes lhe passara pela cabeça: nesses momentos,
ouvia como seu senhorio abria a porta com cuidado e se esgueirava para
caçar cabras alpinas (a Meta von Salis, 07.09.1888). Ele talvez também
caçasse cabras alpinas... Estava no início de um novo trabalho e acreditava
ter encontrado a forma de comunicá-lo, para publicar a obra independente
“Transvaloração de todos os valores”, cujo primeiro livro cha-
* Artigo originalmente publicado em Nietzsche-Studien, 13, 1984.
Tradução de Ernani Chaves.
78 Montinari, M., cadernos Nietzsche 3, p. 77-91, 1997
mava-se O anticristo. Mas, a partir do material reunido até então surgiu
também um outro escrito, inicialmente intitulado “Ociosidade de um
psicólogo” e, depois, Crepúsculo dos ídolos ou como se filosofa com o
martelo. Este era o resumo da sua mais essencial heterodoxia filosófica,
a comunicação do resultado mais maduro do seu filosofar no último
ano. Ambos, o projeto da “Transvaloração de todos os valores” em quatro
livros e o Crepúsculo dos ídolos, surgiram do material da “Vontade
de potência. Tentativa de uma Transvaloração de todos os valores”, obra
entrevista até o fim de agosto de 1888.
2. Antes de mais nada, e para evitar mal-entendidos acerca das
minhas considerações sobre Crepúsculo dos ídolos, gostaria de dizer
que o trabalho editorial, filológico, é um trabalho preliminar, que ele
sozinho não é suficiente para a compreensão de Nietzsche, mas que pode
deixar o caminho livre para ela. A filologia, ou seja, a história, pode
franquear em três aspectos o caminho para a compreensão do Crepúsculo
dos ídolos:
a) na medida em que o coloca como a formulação filosófica e artística
de suas idéias entre o começo e o verão de 1888;
b) na medida em que estabelece sua íntima conexão com os fragmentos
póstumos e, com isso, com a totalidade do desenvolvimento das idéias
de Nietzsche;
c) na medida em que ela, através da exploração das fontes, coloca o
Crepúsculo dos ídolos em uma frutífera conexão com o mundo anterior,
contemporâneo e com a posteridade de Nietzsche.
Os fragmentos póstumos, no sentido amplo desta palavra,
formam aqui o pano-de-fundo onde se desenha este momento separado
de nós, mas também acoplado a nós. A história do surgimento do Crepúsculo
dos ídolos é, ao mesmo tempo, a história das intenções literárias
de Nietzsche em relação a todo o material que ele reunira até então,
tendo em vista a “Vontade de potência”; isto significa que se decifra o
mistério do Crepúsculo dos ídolos colocando-o em uma conexão primeira,
uma conexão de todo modo sui generis, na medida, enfim, em
Montinari, M., cadernos Nietzsche 3, p. 77-91, 1997 79
que devem ser encontradas as referências às fontes de Nietzsche, principalmente
nos fragmentos póstumos. Gostaria de manter a diferença
dos três pontos de vista, tal como os enumerei e fundamentei acima e
isso pelas razões que se seguem: o primeiro ponto diz respeito ao Crepúsculo
dos ídolos, na medida em que ele foi publicado, transmitido em
uma forma muito específica; o segundo, na medida em que até a sua
publicação ele era, em todo caso, parte de fragmentos igualmente bem
específicos; o terceiro, na medida em que descobre as fontes, as leituras
e os interlocutores de Nietzsche.
3. Acerca da função do Crepúsculo dos ídolos entre o Caso Wagner,
publicado um pouco antes e os seus últimos escritos – O anticristo,
Ecce homo – Nietzsche escreveu no “Prefácio”: “Este pequeno escrito é
uma grande declaração de guerra”. Nietzsche se compreende em guerra
pelo fortalecimento da “Transvaloração de todos os valores”, pelo questionamento
dos deuses. Certamente não é examinado nenhum deus
temporal, mas sim os deuses eternos, que aqui são espicaçados com o
martelo, como com um tridente. O martelo, com o qual Nietzsche filosofa
em seu livro, é mais o martelo do minerólogo do que a rude ferramenta
da brutalidade; sim, um tridente, através do qual como resposta “ouvese
esse famoso som oco”, “que fala de entranhas insufladas”. O Crepúsculo
dos ídolos contém 10 seções de extensão desigual. As “Sentenças e
setas”, uma coletânea de 44 sentenças, correspondem a uma antiga
tradição dos escritos de Nietzsche e também a um exercício literário
neste gênero, com o qual nos deparamos, freqüentemente, em seus póstumos
a partir de 1882. Elas são uma espécie de pré-paração (Vor-Spiel)
séria para as exposições (Abhandlungen) filosóficas que se seguem.
A primeira máxima da coletânea – “A ociosidade é o início de
toda psicologia. Como? Seria a psicologia um – vício?”– existia há sete
anos nos manuscritos de Nietzsche. Ela era – além disso – pensada,
originariamente, como uma retomada do primeiro título de Crespúsculo
dos ídolos (“Ociosidades de um psicólogo”). Um caderno de anotações
de Gênova, da época imediatamente anterior à redação da Gaia ciência,
contém, de fato, o seguinte fragmento: “A ociosidade de Zaratustra é o
80 Montinari, M., cadernos Nietzsche 3, p. 77-91, 1997
início de todos os vícios” (fragmento póstumo 12 (112) do outono de
1881; KSA, 9, p. 596) e, ao final, ainda como título: “A ociosidade de
Zaratustra. de F(riedrich) N(ietzsche) ” (fragmento póstumo 12 (225)
do outono de 1881; KSA, 9, p. 616). Sete anos depois, Nietzsche não
apenas retorna à sentença, mas também ao título. Neste meio-tempo,
ele transcreveu a sentença em um caderno do início de 1888, em uma
forma ligeiramente modificada: “A ociosidade é o início de toda filosofia.
– Em conseqüência – é a filosofia um vício?...” (fragmento póstumo
11 (107) de novembro de 1887 a março de 1888; KSA, 13, p. 51). No
manuscrito, filosofia; no livro publicado, psicologia: isto nos permite
talvez compreender melhor o que Nietzsche pensava sob a palavra psicologia
(e filosofia). Mas também (compreender melhor a conexão) Zaratustra
– Filosofia – Psicologia. O otium filosófico como início de todos
os vícios.
A ociosidade de Zaratustra tornou-se na primeira versão do título
do Crepúsculo dos ídolos, “Ociosidade de um Psicólogo” (fragmento
póstumo 22 (6) de setembro a outubro de 1888; KSA, 13, p. 586). Quando
recebeu as primeiras folhas de correção da gráfica de Leipzig, Peter
Gast (aliás Heinrich Köselitz), auxiliar e discípulo de Nietzsche, escreveu
em 20 de setembro de 1888: “O título ‘Ociosidade de um psi(cólogo)’”
soa-me demasiado modesto, quando me lembro como ele poderia agir
sobre as pessoas comuns: o senhor dirigiu sua artilharia para as montanhas
mais elevadas, o senhor tem canhões como nunca houve antes e
precisa apenas atirar às cegas, para aterrorizar os arredores. Um passo
de gigante sob o qual as montanhas estremecem nas origens, não é mais
nenhuma ociosidade. Além disso, na nossa época, a ociosidade é costume
após o trabalho e o Mü (de “Müssigang”) aparece também em Müdigkeit
(cansaço).(1) Ah, eu suplico como só um homem incapaz deve suplicar:
um título espetacular, brilhante”. A retórica de artilheiro deste Peter Gast
encontrou ouvidos exagerados e até mesmo sua manifestação em algumas
passagens do Ecce homo. Nietzsche respondeu sete dias depois (em 27.9):
“No que diz respeito ao título, no seu reparo tão humano, minhas próprias
reflexões lhe anteciparam: finalmente, a partir das palavras do Prefácio,
encontrei a fórmula que também talvez satisfaça suas necessidades. O
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que o senhor escreveu acerca da ‘grande artilharia’, devo simplesmente
adotar em meio à escrita final do primeiro livro da ‘Transvaloração’.
Caminha-se para uma horrível detonação”. O novo título – “Crepúsculo
dos Ídolos” – era também uma maldade contra Wagner, como Nietzsche
observara na mesma carta: Wagner compôs um “Crepúsculo dos deuses”.
As detonações da Transvaloração encontrariam então sua conclusão
desmesurada em toda “Lei contra o cristianismo”, que Nietzsche anuncia
no “primeiro dia do ano um (em 30 de setembro de 1888 do falso calendário)”,
no final de O anticristo. O Prefácio do Crepúsculo dos ídolos
também era datado de 30 de setembro de 1888, “no dia em que foi
concluído o primeiro livro da Transvaloração de todos os valores (isto
é, O anticristo)”.
A impressão do Crepúsculo dos ídolos terminou no início de novembro.
Neste meio-tempo – após a conclusão do manuscrito O
anticristo – surgiu um outro escrito: Ecce homo. Neste, Nietzsche trabalhou
até o fim de dezembro e o concluiu ao mesmo tempo que Nietzsche
contra Wagner e os Ditirambos de Dioniso. Ecce homo fora pensado,
inicialmente, como um apêndice do Crepúsculo dos ídolos; ele ganhou
sua própria autonomia, mas manteve do Crepúsculo dos ídolos o último
capítulo: “O que devo aos antigos”.
O Crepúsculo dos ídolos representa uma espécie de obra-gêmea
de O anticristo, sobretudo da perspectiva da história de seu surgimento.
Do mesmo modo que O anticristo, ele tem suas origens em um e mesmo
material; eles até mesmo coexistem durante um longo tempo, em
uma boa terça parte de um único manuscrito, isto é, as primeiras 24
seções de O anticristo. Isto aconteceu entre a desistência de Nietzsche
em relação ao plano da “Vontade de potência” e o surgimento de uma
nova idéia, a da “Transvaloração de todos os valores”, com quatro livros
específicos, isto é, entre 26 de agosto e 3 de setembro de 1888.
4. O Crepúsculo dos ídolos dá ao leitor a impressão de uma coleção
disparatada de pequenos ensaios que, em si, não são mais aforismos,
sobretudo nos seis capítulos: “O problema de Sócrates”, “A ‘razão’ na
filosofia”, “Como o ‘mundo verdadeiro’, enfim, tornou-se fábula”, “Mo82
Montinari, M., cadernos Nietzsche 3, p. 77-91, 1997
ral como contra-natureza”, “Os quatro grandes erros”, “Os melhoradores
da humanidade”. Pode-se reconhecer com exatidão, em cada um desses
capítulos, o seu lugar nos diferentes planos da “Vontade de potência”,
datados do começo/verão de 1888. Comum a esses diferentes planos é o
destaque ao niilismo (e ao pessimismo) como sintoma, como expressão
da décadence.
Assim, o “Problema de Sócrates” era o começo do capítulo “Filosofia
como décadence” (fragmento póstumo do início de 1888, 15 (5);
KSA, 13, p. 403), “Moral como contra-natureza” surge a partir de um
texto sob o título de “Moral como tipo da décadence” ( KSA, 14, p.
215), “Os quatro grandes erros” (que, não obstante, originariamente eram
três), em um plano da “Vontade de potência” fazia parte do primeiro
livro, cujos quatro livros tinham os seguintes títulos: I. Psicologia do
erro; II. Os falsos valores; III. O critério de verdade; IV. Luta entre falsos
e verdadeiros valores (fragmento póstumo 16 (86) do início ao verão
de 1888; KSA, 13, p. 515-6). “Os melhoradores da humanidade”
deveria formar o conteúdo do terceiro capítulo (Os bons e os
melhoradores) no segundo livro (Proveniência dos valores) do último
plano da “Vontade de potência” (26 de agosto de 1888) (fragmento póstumo
18 (17) de julho a agosto de 1888; KSA, 13, p. 537). “A razão na
filosofia” aparece sob a rubrica de “Filosofia como idiossincrasia” e,
em um outro plano como “O mundo verdadeiro e o aparente” ( fragmento
póstumo 18 (44) de setembro de 1888; KSA, 13, p. 543 e fragmento
póstumo 14 (156) do início de 1888; KSA 13, p. 340 respectivamente).
Finalmente, a parábola filosófica “Como o ‘mundo verdadeiro’,
enfim, tornou-se fábula” (fragmento póstumo 14 (156) do início de
1888; KSA, 13, p. 340) deveria tornar-se – de acordo com um plano do
início de 1888 – o primeiro capítulo da “Vontade de potência”; a preparação
desta seção do Crepúsculo dos ídolos foi, de fato, transcrita no
manuscrito “Primeiro capítulo”.
A restituição do texto do Crepúsculo dos ídolos ao seu lugar de
origem nos manuscritos não conduz ao que estaria contido por inteiro
nesses manuscritos, cuja origem se deve a uma determinada concepção
do conjunto da “Vontade de potência”, algumas vezes diferente. NenhuMontinari,
M., cadernos Nietzsche 3, p. 77-91, 1997 83
ma dessas concepções de conjunto foi levada a cabo por Nietzsche. A
esse respeito, mais um exemplo. O curto capítulo “Como o ‘mundo verdadeiro’,
enfim, tornou-se fábula” pertence, como já foi mencionado, a
um plano do início de 1888, no qual o erro da oposição entre um mundo
verdadeiro e um mundo simplesmente aparente é apresentado como a
premissa de um querer equívoco em relação à vida por parte dos filósofos
(como tipos da décadence). Segue-se a ele um capítulo sobre a “Moral
como expressão da décadence”, criticada como altruísmo, compaixão,
cristianismo, espiritualização. O quarto capítulo examina a possibilidade
de uma posição contrária à décadence na filosofia e na moral. O
quinto deveria conter a crítica do presente como niilista, na qual um
elemento afirmativo do presente é a boa consciência da ciência. No sexto
capítulo, a Vontade potência deveria ser tratada como vida. Enfim, o
sétimo e último capítulo, sob o sugestivo título de “Nós, hiperbóreos”
diz o seguinte, de maneira impressionante, num plano que como todos
os outros nunca foi realizado: “Puros lugares absolutos, por exemplo
Felicidade! por exemplo História / ao final, monstruoso gozo e triunfo,
ter um puro e claro Sim e Não... Salvação da incerteza” (fragmento póstumo
14 (156) do início de 1888; KSA, 13, p. 341).
O material mais antigo – fechamos nossa análise – é rubricado;
novos textos aparecem até surgir um novo plano, inicialmente com pequenas
divergências e talvez um outro, que com os dois ainda tem alguma
semelhança. Assim sendo, no decorrer de outras meditações, são
pensados outros planos, as divisões em capítulos são de novo restituídas
ao invés daquelas dos livros, sua seqüência modificada, etc.
A partir desse fluxo de idéias, fixadas diferentemente, Nietzsche
fez sua primeira seleção; ele terminou uma cópia, na qual os capítulos
atuais do Crepúsculo dos ídolos foram transcritos juntamente com os
primeiros 24 capítulos de O anticristo. Mas então ele decidiu, de um
lado, comunicar o essencial de sua heterodoxia filosófica através das
“Ociosidades de um psicólogo” (= Crepúsculo dos ídolos) e, por outro
lado, atacar o projeto da “Transvaloração de todos os valores” em quatro
livros específicos, enquanto iniciava O anticristo. Das ruínas da “Vontade
de potência” que, entretanto, jamais fora um edifício, ele apanhou
84 Montinari, M., cadernos Nietzsche 3, p. 77-91, 1997
o material utilizável para o Crepúsculo dos ídolos como o resumo de
sua filosofia e transformou as idéias sobre o cristianismo trabalhadas
anteriormente, na prosa forte e inventiva de O anticristo.
5. De volta ao texto do Crepúsculo dos ídolos, para os seus três
últimos capítulos. “O que falta aos alemães”, mesmo que numa forma
bastante divergente da versão definitiva era, originariamente, o “orgulhoso”
Prefácio de 3 de setembro de 1888, do qual nos lembrávamos no
início de nossa exposição. Neste sentido, Nietzsche escreveu para a
“Transvaloração de todos os valores” o curto Prefácio atual, que podemos
ler ainda no início de O anticristo. Soberanamente, Nietzsche dispôs
sobre seus textos até o último momento, mesmo quando falava deles
em suas cartas (neste caso, carta a Meta von Salis, de 7 de setembro
de 1888). Para a maioria das 51 partes que, de acordo com o modelo dos
livros de aforismos, formam o capítulo “Incursões de um extemporâneo”
pode-se, ao contrário, encontrar uma data mais antiga de seu aparecimento.
Uma parte deles, da 2ª à 4ª seção dos excertos existentes, ele os
constrói novamente pequenos; outra parte, organiza de acordo com uma
analogia de conteúdo, aforismos sobre escritores e artistas, sobre a modernidade,
sobre questões relativas ao trabalho, política, etc. A proveniência
desses excertos e aforismos é – mais uma vez – o material
desordenado e não utilizado da “Vontade de potência”. Os excertos são
de nº 8 a 11 (CI: Psicologia do artista; Fragmentos póstumos: Para a
psicologia da arte); 19-21 (CI: Belo e feio; Fragmentos póstumos:
Aesthetica. Ponto fundamental: o que é belo e feio?); 32-35 (CI: O
imoralista fala. O valor natural do egoísmo. Cristo e os anarquistas.
Crítica da moral da décadence; nos fragmentos póstumos, sem título,
mas como textos correlacionados); o longo aforismo 36, “Moral para
médicos”, pertence nos fragmentos póstumos a um extenso texto em
três partes: 1. A reabilitação do suicídio (=CI 36); 2. uma seção sobre a
proibição da propagação das doenças crônicas; 3. uma seção acerca da
reabilitação da prostituição. Os dois últimos textos não foram incluídos
por Nietzsche no Crepúsculo dos ídolos: talvez ele os tenha suprimido
visando ao segundo livro da “Transvaloração de todos os valores” (“O
Montinari, M., cadernos Nietzsche 3, p. 77-91, 1997 85
imoralista”). A partir do ponto de vista desse livro surgiram também as
anotações espalhadas, a partir das quais Nietzsche compôs o longo
aforismo 37 das “Incursões de um extemporâneo” (Se nos tornamos
moralistas). As seções 38 (Meu conceito de liberdade) e 39 (Crítica da
modernidade) formavam novamente nos fragmentos póstumos uma parte
com o título: “A modernidade. Vademecum de um futuro vindouro”.
Finalmente, a seção 45 das “Incursões” (O criminoso e o que lhe é aparentado),
constituía uma continuação do texto dos póstumos mencionado
acima acerca do suicídio, propagação das doenças e prostituição.
Originariamente, o Crepúsculo dos ídolos deveria ser concluído
após os dois textos sobre Goethe (49 e 50) das “Incursões” com o seguinte
texto (51):
“Perguntam-me, freqüentemente, porque escrevo em alemão, quando
em nenhum outro lugar do mundo sou tão mal lido como na minha
pátria. Quem sabe afinal se eu também desejo ser lido hoje? – criar
coisas em que inutilmente o tempo experimenta seus dentes; buscar
uma pequena imortalidade segundo a forma, segundo a substância –
jamais fui suficientemente modesto para exigir menos de mim. O
aforismo, a sentença, nas quais, sendo o primeiro, sou o mestre entre os
alemães, são as formas da ‘eternidade’; minha ambição é dizer em dez
frases aquilo que qualquer outro diz em um livro, – aquilo que qualquer
outro não diz em um livro. Ofereci à humanidade o livro mais profundo
que ela possui, o meu Zaratustra: breve, oferecer-lhes-ei o livro mais
independente”.
Com este anúncio da “Transvaloração de todos os valores”,
Nietzsche queria terminar o livro. O capítulo “O que devo aos antigos”
foi incluído depois e, mais precisamente, durante a correção; Nietzsche
o retirou de um texto volumoso, que ele entrevira como a primeira versão
do Ecce homo.
Resumamos os resultados dessa abordagem crítica do texto do
Crepúsculo dos ídolos: a redução do Crepúsculo dos ídolos aos fragmentos
póstumos é uma operação sem sentido, caso se prometa através
disso a reconstrução de uma obra – a “Vontade de potência”. O Crepús86
Montinari, M., cadernos Nietzsche 3, p. 77-91, 1997
culo dos ídolos fornece, ao contrário, a justificativa para o fato de que
Nietzsche desistira do projeto da “Vontade de potência”, que o ocupava
desde setembro de 1885. Os pensamentos do Crepúsculo dos ídolos
ganham seu pano-de-fundo genético, se forem lidos mais uma vez nas
suas conexões originárias. Os fragmentos póstumos tornam-se aqui um
complemento, na medida em que eles foram restringidos na obra
publicada ou até mesmo suprimidos.
6. Chama a atenção de todo leitor do Crepúsculo dos ídolos, que
Nietzsche utiliza uma nova terminologia: Sócrates como raquítico, bastardo
e de desenvolvimento decadente, o criminoso típico como monstro,
despotenciação, degenerescência e degenerado, fisiologia, psicologicamente
degenerado, estado de necessidade fisiológica, sentimentos
fisiológicos fundamentais, “nós fisiólogos”, aprisionamento pela doença,
decadência e esgotamento – e, por toda parte, décadence: esta terminologia
sinaliza em Nietzsche um desvio em direção à fisiologia contemporânea.
Algumas semanas depois, seu espírito é vencido sob estes
signos: em uma de suas últimas declarações, quer “homenagear a fisiologia”.
Um esquisito ar de hospital sopra contra nós, de muitas páginas
do Crepúsculo dos ídolos. A mesma coisa é válida para o Caso Wagner,
panfleto redigido um pouco antes. Ou seja: quem não se defende de
Wagner, é já ele mesmo signo de décadence, da décadence fisiológica e
“O instinto é enfraquecido. Veste-se aquilo que deveria amedrontar.
Coloca-se nos lábios o que mais rapidamente impulsiona para o abismo
– Um exemplo? Deve apenas observar o regime que se prescreve para os
anêmicos, os doentes de gota ou para os diabéticos” (WA/CW § 5). A
invasão do medi-cínico (do processo de medicalização das condutas)(2)
é um distintivo do amortecido século XIX. Criminosos e prostitutas,
alcoólatras e neuróticos, degenerados e loucos: Dégénerescence et
criminalité é um tema popular dos fisiólogos, é o título de um livro de
Charlés Féré que Nietzsche, no começo de 1888, pouco depois de sua
publicação, estudou e anotou e a quem ele deve seu conhecimento acerca
do regime das doenças no Caso Wagner e muitas outras coisas no
Crepúsculo dos ídolos. Charles Féré (1852-1907) foi um médico dos
Montinari, M., cadernos Nietzsche 3, p. 77-91, 1997 87
nervos e estagiário no serviço de Charcot, na famosa Salpêtrière de Paris.
Sua sóbria obra acerca da degenerescência e da criminalidade fornece
a Nietzsche importantes referências sobre o falso modo de vida e
alimentação dos doentes, dos degenerados no sentido amplo que, exatamente
a partir de sua degenerescência, escolhem arruinar-se. Os póstumos
mostram, da mesma maneira que o Caso Wagner e o Crepúsculo
dos ídolos, profundos traços da ocupação de Nietzsche com este
fisiólogo. O conhecido aforismo 52 do livro conhecido como “Vontade
de potência” (fragmento póstumo 15 (41) do início de 1888; KSA, 13,
p. 433), um texto de caráter fisiológico, singularmente terrível acerca
da ausência de compaixão na natureza para com os degenerados, não é
um texto de Nietzsche, mas uma tradução dele de um trecho do livro de
Féré: o que, sem dúvida, os compiladores da “Vontade de potência” não
revelaram aos seus leitores! Ao mesmo tempo em que Nietzsche tentou
acompanhar a mais recente situação da fisiologia, ele produziu para si
mesmo e para seus contemporâneos conceitos e metáforas pregnantes.
Isto é válido sobretudo para a complexa elaboração de uma fisiologia
da arte, motivada pelas pré-condições fisiológicas do êxtase. Deste mundo
de morbidezza, de aprisionamento pela doença, chegam outras vozes
parisienses que Nietzsche ouvia com uma singular atenção, tal como
pode-se concluir a partir dos póstumos e das citações referidas na obra:
Paul Bourget e Ernst Renan, os irmãos Goncourt, Baudelaire e muitos
outros escritores e cientistas menos importantes. A solidão de Nietzsche
era algo bem diferente de um bloqueio contra contemporâneos e livros
de contemporâneos. Recuperar este meio-ambiente vivo e histórico é
um pressuposto necessário para lê-lo corretamente.
7. Um método de conversão (sobre o qual Heidegger já chamara a
atenção); o destaque à décadence na filosofia, na religião, na moral, na
política, na arte; a tentativa de mostrar a limitação fisiológica da
décadence; o êxtase como o momento mais elevado da criação artística
(fisiologia da arte): enfim, a recordação da “visão dionisíaca do mundo”.
Com isso, queremos circunscrever o conteúdo do Crepúsculo dos
ídolos.
88 Montinari, M., cadernos Nietzsche 3, p. 77-91, 1997
A conversão acontece, de início, no plano da teoria do conhecimento:
não é o mundo verdadeiro que tem realidade, mas a realidade é,
exatamente, aquele mundo descrito pela filosofia como aparente; dividir
o mundo em um “verdadeiro” e outro “aparente” é apenas uma sugestão
da décadence. O mesmo vale para a moral: as paixões, a sensualidade,
não devem apenas ser exterminadas, mas espiritualizadas. Mais
ainda: não há nenhum sentido em dizer que o homem deve ser assim e
assado. Deve-se afirmar, ao contrário, o império encantado dos tipos, de
um profuso jogo de formas e de mudanças na realidade. A moral é uma
degenerescência idiossincrática. Uma pessoa feliz e educada deve fazer
certas ações e, instintivamente, se envergonha diante de outras ações.
Sua virtude é conseqüência de sua felicidade (e não a felicidade conseqüência
de sua virtude). Neste ponto, então, a moral a partir de Sócrates,
através da igualdade entre razão, virtude e felicidade, que conduziu a
guerra contra os instintos, tornou-se uma expressão da décadence; o
moralismo da filosofia grega a partir de Platão era patologicamente limitado;
os instintos devem perder – esta é a fórmula da décadence.
Sócrates sabia que era doente, Sócrates quis morrer.
Esta e outras confrontações com a décadence devem ser compreendidas
de acordo com o princípio estabelecido por Nietzsche nos póstumos:
o pessimismo não é nenhum problema, mas apenas sintoma, o
nome correto para isso é niilismo; entretanto, “o niilismo não é nenhuma
causa, mas apenas a lógica da décadence” (fragmento póstumo 14
(86) do início de 1888; KSA, 13, p. 265). Valores niilistas, valores decadentes
conduzem à dominação sob os nomes mais sagrados. Onde falta
vontade de potência, há decadência. Todos os valores nos quais a humanidade
resume seus mais elevados desejos são valores da décadence.
Assim o diz Nietzsche em O anticristo. Mas, ao lado desse processo de
pensamento que se orienta pelo conceito de vontade de potência, há um
outro no Crepúsculo dos ídolos, do qual Nietzsche queria tratar no quarto
livro (“Dioniso filósofo”) da “Transvaloração de todos os valores”. Ele
não chegou até aí e, neste sentido, somos instruídos pela execução do
Crepúsculo dos ídolos. Com as palavras de Nietzsche: o valor da vida
não pode ser julgado, a vida não permite o juízo de um ser em particuMontinari,
M., cadernos Nietzsche 3, p. 77-91, 1997 89
lar, porque este faz parte desta própria vida. “O indivíduo é parte do
fatum, à frente e atrás, é uma lei a mais, uma necessidade a mais para
tudo o que chega e virá. Dizer-lhe ‘muda tua natureza’ é desejar uma
transformação do todo, até mesmo uma transformação do passado...”
(GD/CI §§ 5 e 6). “Somos necessários, somos um fragmento do destino,
formamos parte do todo, estamos no todo: não há nada que possa dirigir
o nosso ser, medí-lo, compará-lo, julgá-lo... Não há nada fora do todo!
– Que ninguém mais possa ser responsabilizado, pois o ser não deve se
referir a uma causa primeira, pois o mundo não é nem uma unidade
como sensação, nem como ‘espírito’, eis a primeira grande libertação,
– com isso restaura-se a inocência do vir-a-ser... O conceito ‘Deus’ era
até aqui a maior objeção contra a existência... Nós negamos Deus, nós
negamos a responsabilidade em Deus: com isso, antes de mais nada,
redimimos o mundo-” (GD/CI § 8). “O poder que não tem mais necessidade
de nenhuma justificativa, que desdenha o agradar, que dificilmente
contesta, que não vê testemunhas em volta de si, que vive sem a consciência
de que há oposições contra ele; que nele descansa, fatalísticamente,
uma lei entre as leis (...)” (GD/CI § 11). Um espírito tornado
livre como Goethe “aparece no centro do universo com um fatalismo
feliz e confiante, na crença de que apenas o indivíduo é condenável, que
na totalidade tudo se resolve e se afirma – ele não renega mais... Mas,
uma tal crença é a maior de todas as crenças”. Nietzsche “a batizou com
o nome de Dioniso” (GD/CI § 49 e 50). “A afirmação da vida até em
seus problemas mais estranhos e duros; a vontade de viver, regozijandose
no sacrifício de seus tipos mais elevados da própria inesgotabilidade
– isso chamei de dionisíaco”; o poeta trágico quer ser ele mesmo “o
eterno prazer do vir-a-ser”, “todo prazer que em si encerra ainda o prazer
na destruição (...)”. “O nascimento da tragédia – assim conclui
Nietzsche o Crepúsculo dos ídolos – foi a minha primeira transvaloração
de todos os valores: com isso, retorno novamente ao solo do qual cresceu
meu querer, meu poder – eu, o último discípulo do filósofo Dioniso,
– eu, o mestre do eterno retorno...” (GD/CI § 5).
Esta posição, no fim, do pensamento do eterno retorno do mesmo,
não me parece ocasional. Este é um pensamento que está na conclusão
90 Montinari, M., cadernos Nietzsche 3, p. 77-91, 1997
de toda uma história de vida e paixão. Através de sua afirmação, a vida
torna-se justificada, o mundo redimido, quando toda a dura realidade da
vida for percorrida por uma vontade de potência múltipla. Este pensamento
não se deixa compreender por fórmulas, ou melhor, todas as suas
formulações são provisórias e superáveis, na medida em que abarca num
todo a vida, o mundo e o tempo, mas não de forma transcendental, porque
ele já expressa a totalidade. Através dele acontece a confirmação da
imanência após a morte de Deus. Ele é, de fato, a maior justificativa da
vida e, nesta medida, está em oposição ao que calunia a vida; mas porque
isto é parte da vida, é também justificado e não julgável. Neste
sentido, o pensamento do eterno retorno não oferece à vida aquilo que,
como tal, o perspectivismo da vontade de potência precisa. Não se entrega
o conhecimento do eterno retorno a preço de pechincha. Por conseguinte,
existe uma tensão no pensamento do eterno retorno, considerado
por um lado como fundamento especulativo último, como inocência
do vir-a-ser, como redenção do mundo, como a mais elevada forma
de afirmação da vida e (por outro lado) como confrontação com situações
particulares, seja a filosofia até então, ou a modernidade, o niilismo
e a décadence, a moral ou a religião, uma tensão que não é superada,
que por princípio não deve ser superada. Uma sistematização geral da
vontade de potência como princípio eliminaria, por um lado, a resolução
da luta necessária ao perspectivismo e, por outro, se igualaria à construção
de uma metafísica da vontade de potência (análoga à metafísica
schopenhaueriana da vontade de vida). Mas, a presença do pensamento
do eterno retorno impede toda sistematização. Agora, entendemos o sentido
profundo da máxima de Crepúsculo dos ídolos: “A vontade de sistema
constitui uma falta de lealdade” (GD/CI § 26).
O sentido filosófico do Crepúsculo dos ídolos não é uma sistemática
da Vontade de potência, mas sua superação no pensamento do eterno
retorno do mesmo.
Montinari, M., cadernos Nietzsche 3, p. 77-91, 1997 91
Abstract: Starting from the idea that the philosophical interpretation of Nietzsche
has to have as its basis the philological-historical work, this article aims to present
The twilight of idols. It rebuilds the genesis of the book in the context of the “Will
to power”’s project.
Key-words: philology – history – will to power – eternal recurrence
Notas
(1) Peter Gast destaca que as palavras “Müssigang” (“ociosidade”) e “Müdigkeit”
(cansaço) iniciam com a mesma sílaba “Mü”. Mesmo que as palavras em português
não tenham esta mesma afinidade há, contudo, uma afinidade de sentido
quando se diz, por exemplo, “estou cansado de não fazer nada” ou “a ociosidade
cansa”, da mesma maneira que também se “acredita” em português que “a ociosidade
é a mãe de todos os vícios” (N.T.).
(2) Ao separar pelo hífen a palavra “Medizinisch” (que indicaria para o processo de
“medicalização” das condutas no século XIX), Montinari, por aliteração, faz soar
o “zynisch” (cínico) e, com isso, acentua o aspecto moralizador, do ponto de
vista médico-psiquiátrico, do estudo das degenerescências. Basta lembrar os
inúmeros estudos a respeito – de Foucault aos historiadores da psicanálise (N.T.).

Escolha 10 questões, se for (F), indique o erro corrigindo-a:

ATIVIDADE PARA NOTA
CESPE Período Simples

1 – (CESPE – PRODEST/2006-M) “ O “caso Pedrinho” (o garoto seqüestrado de uma família de classe média, em uma maternidade em Brasília), por exemplo, poderia ter passado despercebido por todos.”
( ) O termo “Pedrinho” é o sujeito sintático de “poderia ter passado despercebido por todos.”

2 – (CESPE – FR/SE/2006-M) “ Para alcançarmos o desenvolvimento sustentável é necessário o fortalecimento do capital social do país. É esse capital que ajuda a manter a coesão social, o que leva a uma sociedade mais aberta e democrática. Reflete também o grau de confiança existente entre os diversos atores sociais que formam as comunidades e a sua capacidade de estabelecer relações de cooperação e associação em torno dos interesses comuns...”
( ) A forma verbal “Reflete” tem como sujeito elíptico “esse capital”.

3– (CESPE – CODEBA/2006-M) “ Tenho uma pequena força, o suficiente para garantir o pão nosso de cada dia, e mesmo alguma manteiga, o que não é pouco, neste país em que muita gente morre de fome”
( ) A expressão “ pequena força” é o sujeito de “o que não é pouco”.

4– (CESPE – SGA/SESACRE/2006-M) “...Nos casos em que não se constata uma urgência maior, o profissional encaminha a pessoa a uma unidade de saúde. Nas outras situações, define se é necessário o envio de uma ambulância básica ”
( ) O sujeito de “define” é “ a pessoa”.

6 – (CESPE – SAD/MT/2007-M) “Pensei em reescrever minha vida de trás para frente, de ponta-cabeça, mas não posso, mal consigo rabiscar. As palavras são manchas no papel, e escrever é quase um milagre... Sinto no corpo o suor da agonia, e o que se lê pouco antes do fim. Na margem da última página, estas palavras: “meia-noite é pouco”.
( ) Na oração “ Escrever é quase um milagre”, o termo “escrever” desempenha a função sintática de sujeito.

7 - (CESPE – SAD/MT/2007-M) “O Ministério da Educação pela pontuação surpreendente obtida na Prova Brasil, que mediu conhecimentos de 3.306.378 alunos de 4ª a 8ª séries. A professora já havia percebido que a turma melhorava desde o primeiro bimestre, mas explicações para o milagre veio agora...”
( ) Na oração “ A professora já havia percebido” “havia” está sendo empregado como verbo impessoal.

8 – (CESPE/2008-S)” Dentro de um mês tinha comigo vinte aranhas, no mês seguinte cinqüenta e cinco, em março de 1877 contava quatrocentas e noventa.”
( ) O verbo TER, na linha 1, está empregado no sentido de HAVER, EXISTIR, por isso mantém-se no singular, sem concordar com o sujeito da oração – “ vinte aranhas”.

9 - (CESPE – MMA/AGUA/2009-S) Esforços vãos. As partidas demarcadoras, as missões apostólicas, as viagens governamentais, com as suas frotas de centenas de canoas, e os seus astrônomos comissários apercebidos de luxuosos instrumentos, e os seus prelados, e os seus guerreiros, chegavam, intermitentemente, àqueles rincões solitários e armavam rapidamente no altiplano das “barreiras” as tendas suntuosas da civilização em viagem. Regulavam as culturas; poliam as gentes; aformoseavam a terra.
( ) No período “Regulavam as culturas; poliam as gentes; aformoseavam a terra” , o sujeito das orações é indeterminado.

10 - (CESPE – TCE/GO – TO) “Grande parte era apenas repreendida; havia alguém de casa que servia de padrinho, e o mesmo dono não era mau; além disso, o sentimento da propriedade moderava a ação, porque dinheiro também dói. A fuga repetia-se, entretanto. Casos houve, ainda que raros, em que o escravo de contrabando, apenas comprado no Valongo, deitava a correr, sem conhecer as ruas da cidade. Dos que seguiam para casa, não raro, apenas ladinos, pediam ao senhor que lhes marcasse aluguel, e iam ganhá-lo fora,quitando.”
a) ( ) No trecho “Casos houve, ainda que raros” , a forma verbal “houve” é substituível por houveram, sem prejuízo para a correção gramatical e para o sentido original do texto.

11 - (CESPE – TRT/ES) Se tanta companhia não vale como consolo, a vantagem de ter muita gente sofrendo com o problema é que isso estimula as pesquisas científicas. “Há equipes estudando o uso de células-tronco para tratamento da calvície”, conta Leite Jr.
( ) Na linha 2, o sujeito da forma verbal ‘Há’ é o substantivo ‘equipes’.

12 - (CESPE –ANA) “Nós tivemos uma ampla participação de todos os setores usuários na construção do plano, mas é importante eles incorporarem os princípios, as diretrizes e os programas já na fase de planejamento da sua ação de forma que essas ações sejam sustentáveis”.
( ) No trecho entre aspas nas linhas de 15 a 19, os pronomes ‘Nós’ e ‘eles’ funcionam como sujeitos, respectivamente, das formas flexionadas dos verbos ter e incorporar.

13 - (CESPE-MMA/ALFA-2008) “O bom momento que vive a economia nacional estimula suas vendas, mas a indiscutível preferência do consumidor pelo modelo flex tem outras razões.”
( ) No trecho “O bom momento que vive a economia nacional estimula suas vendas” (l.1), o sujeito das formas verbais “vive” e “estimula” é o mesmo.

14 – (CESPE – PML/SP/2006-M)“O novo material sintético reduziu os custos dos comerciantes e incrementou a sanha consumista da civilização moderna.”
( ) As expressões “os custos” e “ a sanha” têm funções sintáticas diferentes.

15 - (CESPE – PMV/2007-M) “ Um episódio igualmente ilustrativo foi-me narrado pelo Dr. Ronaldo Tourne, antigo colega de ginásio. Disse-me ele que havia desenvolvido e montado, por conta própria, no hospital em que trabalha em Juiz de Fora, uma biblioteca para os internados.”
( ) A palavra “biblioteca” é um substantivo coletivo com função de objeto direto.

16 - (CESPE-SEPLAG-Professor-2008)
I Abordar o conteúdo de forma diferenciada
II Atender o aluno durante atividades em sala
III Combater a competição entre os pares
IV Considerar o conhecimento prévio dos estudantes
V Dar liberdade ao aluno para escolher o momento para ser avaliado
( ) Os verbos que introduzem as sugestões de I a IV exigem complemento


17 - (CESPE – TRE/PA/2007-M) “ Para mostrar a importância do voto aos 16 anos de idade, a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) realizou a campanha TE LIGA 16 – O Brasil só ganha se você tiver esse título. O objetivo da campanha foi conscientizar os jovens de 16 anos da responsabilidade do voto e da participação política. “Votar aos 16 anos” é despertar uma consciência cidadã. Ficar em casa reclamando que política é ruim não está com nada. Está na hora de não só pensar, mas de decidir, disse o professor Pedro.
A presidenta da Comissão de Educação da Câmara de Vereadores de Porto Alegre completou a introdução do professor, chamando a atenção dos estudantes para o poder de decisão que eles têm. “Somos 33 milhões de brasileiros entre 16 e 24 anos. A juventude brasileira, se unida, é suficiente para mudar qualquer coisa nesse país.”
( ) No primeiro parágrafo do texto, o trecho em negrito exerce a função sintática de adjunto adverbial de “campanha”.
( ) O trecho “ da responsabilidade do voto e da participação política” exerce função de complemento da forma verbal “foi”.
( ) O período “Votar aos 16 anos é despertar uma consciência cidadã” é composto por duas orações.
( ) A expressão “reclamando”(l.5) expressa ideia de causa.
( ) O sujeito da oração “Somos 33 milhões de brasileiros entre 16 e 24 anos” está subtendido: nós.

18 - (CESPE – PCES/2009-M) Muitos pais querem saber que atitudes tomar quando o filho se desentende com amigos ou colegas, quando chega em casa com marcas de briga, quando tem o costume de dirigir palavrões aos outros etc. Nesses casos, vale mais desvalorizar o fato do que procurar saber quem tinha razão. Se houve briga, foi porque todos participaram, portanto ninguém pode estar certo. Se nos dedicarmos a ensinar aos mais novos, em família e na escola, que, para conviver, é preciso ter consideração com o outro, relevar e fazer concessões, eles aprenderão melhor a controlar seus impulsos em favor do equilíbrio da vida em grupo. Rosely Sayão. Brigas e desentendimentos.
( ) Na linha 4, a conjunção “portanto” atribui à oração “ninguém pode estar certo” o sentido de causa.
( ) Na linha 5 a expressão “em família e na escola”, juntamente com as vírgulas que a intercalam, poderia ser transposta, sem prejuízo da correção gramatical e sem alteração do sentido original, para as seguintes posições dentro do período: ou imediatamente após a palavra “dedicarmos”, ou imediatamente após a palavra “ensinar”.

19 - (CESPE – MMA/ Água/ 2009) – Sem texto:
( ) Na oração “Há vinte meses que o Decreto foi revogado”, a forma verbal “Há” poderia ser corretamente substituída por Faziam.
( ) Na oração “Segue anexa a nota editorial”, foi atendida regra de concordância nominal, visto que o adjetivo “anexa” está no feminino para concordar com a expressão no feminino “a nota editorial”, que exerce a função de sujeito da oração.

20 –(CESPE – TRE/MG) “Partes diferentes de seu cérebro processaram à sua maneira a informação visual captada pelos olhos. Uma delas, o lobo temporal, registrou aquela luz pálida emanada de um disco que parecia flutuar
no espaço como uma experiência sublime, inexplicável, superior, poderosa, acachapante, religiosa.”
a) ( ) No trecho “Uma delas, o lobo temporal, registrou aquela luz pálida” , a expressão “lobo temporal” exerce a função sintática de vocativo.

21 - (CESPE – ME)““Talento só não basta”, disse Phelps na entrevista coletiva após a sexta medalha de ouro. “Muito trabalho, muita dedicação, é uma combinação de tudo... Tentar dormir e se recuperar, armar cada sessão de treino da melhor forma possível e acumular muito treino.”Época, 18/8/2008, n.º 535, p. 92 (com adaptações)
a) ( ) No último parágrafo, o sujeito dos verbos “Tentar”,“recuperar”, “armar” e “acumular” é o pronome “tudo”, que funciona como aposto.

22 - (CESPE – SGA/AC) “Uma decisão singular de um juiz da Vara de Execuções Criminais de Tupã, pequena cidade a 534 km da cidade de São Paulo, impondo critérios bastante rígidos para que os estabelecimentos penais da região possam receber novos presos, confirma a dramática dimensão da crise do sistema prisional.”
a) ( ) O trecho “pequena cidade a 534 km da cidade de São Paulo”(l.2-3) encontra-se entre vírgulas por exercer a função de aposto.

23 - (CESPE-MS/2008) “A diretora-geral da OPAS, com sede em Washington – EUA, Mirta Roses Periago, elogiou a iniciativa de estados e municípios brasileiros de levar a vacina contra a rubéola aos locais de maior fluxo de pessoas, especialmente homens, como forma de garantir a maior cobertura vacinal possível.”
( ) O nome próprio “Mirta Roses Periago” funciona como aposto de “A diretora-geral da OPAS”.

24 – (CESPE – PRODEST/2006-M) “ O “caso Pedrinho” (o garoto seqüestrado de uma família de classe média, em uma maternidade em Brasília), por exemplo, poderia ter passado despercebido por todos.”
( ) No início do parágrafo, a expressão entre parênteses é um aposto.

Período Simples Outras Bancas

1 -(CESGRANRIO-ANP/2008-S) Qual par de orações NÃO apresenta transformação da voz verbal?
(A) “(O rei) assegurou a integridade territorial” / A integridade territorial foi assegurada pelo rei.
(B) “(...) a Independência e a República teriam vindo mais cedo” / Mais cedo viriam a República e a Independência.
(C) “(...) quando abrissem seus livros de Geografia” / Quando seus livros de Geografia fossem abertos.
(D) “Nordestinos seriam impedidos de viajar para São Paulo”/ Impediriam nordestinos de viajar para São Paulo.
(E) “paulistas teriam de providenciar passaportes...” / Passaportes teriam de ser providenciados por paulistas.

2 - (FCC-TCAL-ANALISTA/2008-S) É a liberdade que dá à vida uma direção.
O termo sublinhado na frase acima exerce a mesma função sintática do termo sublinhado em:
(A) Sem passado e sem história, poderíamos ser livres?
(B) Liberdade seria, a meu ver, um sinônimo de decisão.
(C) Somos livres a cada vez que, agindo, recomeçamos.
(D) Liberdade seria, pois, começar o improvável.
(E) A liberdade nos liberta, o passado é argila que nos molda.

3 -(FCC-TCAL-ANALISTA/2008-S) A transposição para a voz passiva é possível apenas em:
(A) Novos gestos incutem à nossa vida um novo sentido.
(B) A liberdade aposta, sempre, em novas possibilidades.
(C) Na nossa capacidade de escolha estaria a nossa liberdade.
(D) A resolução desse dilema depende de uma grave decisão.
(E) As idéias fatalistas conspiram contra as ações libertárias.


4 - (FUNIVERSA/PC/2009-S) Assinale a alternativa em que o termo sublinhado contém mesmo valor semântico que o sublinhado em “O país mais desenvolvido do mundo” (linha 2).
(A) “no pelotão de frente da economia” (linha 5).
(B) “que não dispõe de base científica alguma” (linhas 7 e 8).
(C) “constrói a massa de sucesso mais forte” (linha 12).
(D) “uma profunda descrença, ou ignorância, da população” (linhas 12 e 13).
(E) “se defrontam com mentes impermeáveis a seu trabalho de erosão de mitos” (linhas 35 e 36).

domingo, 18 de abril de 2010

Matéria retirada do "site" http://www.astormentas.com/din/biografia.asp?autor=Fernando+Pessoa

Fernando Pessoa

Nascimento: 1888 Lisboa
Morte: 1935
Época: Modernismo
País: Portugal
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Escritor português, nasceu a 13 de Junho, numa casa do Largo de São Carlos, em Lisboa. Aos cinco anos morreu-lhe o pai, vitimado pela tuberculose, e, no ano seguinte, o irmão, Jorge. Devido ao segundo casamento da mãe, em 1896, com o cônsul português em Durban, na África do Sul, viveu nesse país entre 1895 e 1905, aí seguindo, no Liceu de Durban, os estudos secundários.
Frequentou, durante um ano, uma escola comercial e a Durban High School e concluiu, ainda, o «Intermediate Examination in Arts», na Universidade do Cabo (onde obteve o «Queen Victoria Memorial Prize», pelo melhor ensaio de estilo inglês), com que terminou os seus estudos na África do Sul. No tempo em que viveu neste país, passou um ano de férias (entre 1901 e 1902), em Portugal, tendo residido em Lisboa e viajado para Tavira, para contactar com a família paterna, e para a Ilha Terceira, onde vivia a família materna. Já nesse tempo redigiu, sozinho, vários jornais, assinados com diferentes nomes.
De regresso definitivo a Lisboa, em 1905, frequentou, por um período breve (1906-1907), o Curso Superior de Letras. Após uma tentativa falhada de montar uma tipografia e editora, «Empresa Íbis — Tipográfica e Editora», dedicou-se, a partir de 1908, e a tempo parcial, à tradução de correspondência estrangeira de várias casas comerciais, sendo o restante tempo dedicado à escrita e ao estudo de filosofia (grega e alemã), ciências humanas e políticas, teosofia e literatura moderna, que assim acrescentava à sua formação cultural anglo-saxónica, determinante na sua personalidade.
Em 1920, ano em que a mãe, viúva, regressou a Portugal com os irmãos e em que Fernando Pessoa foi viver de novo com a família, iniciou uma relação sentimental com Ophélia Queiroz (interrompida nesse mesmo ano e retomada, para rápida e definitivamente terminar, em 1929) testemunhada pelas Cartas de Amor de Pessoa, organizadas e anotadas por David Mourão-Ferreira, e editadas em 1978. Em 1925, ocorreria a morte da mãe. Fernando Pessoa viria a morrer uma década depois, a 30 de Novembro de 1935 no Hospital de S. Luís dos Franceses, onde foi internado com uma cólica hepática, causada provavelmente pelo consumo excessivo de álcool.

Levando uma vida relativamente apagada, movimentando-se num círculo restrito de amigos que frequentavam as tertúlias intelectuais dos cafés da capital, envolveu-se nas discussões literárias e até políticas da época. Colaborou na revista A Águia, da Renascença Portuguesa, com artigos de crítica literária sobre a nova poesia portuguesa, imbuídos de um sebastianismo animado pela crença no surgimento de um grande poeta nacional, o «super-Camões» (ele próprio?). Data de 1913 a publicação de «Impressões do Crepúsculo» (poema tomado como exemplo de uma nova corrente, o paúlismo, designação advinda da primeira palavra do poema) e de 1914 o aparecimento dos seus três principais heterónimos, segundo indicação do próprio Fernando Pessoa, em carta dirigida a Adolfo Casais Monteiro, sobre a origem destes.
Em 1915, com Mário de Sá-Carneiro (seu dilecto amigo, com o qual trocou intensa correspondência e cujas crises acompanhou de perto), Luís de Montalvor e outros poetas e artistas plásticos com os quais formou o grupo «Orpheu», lançou a revista Orpheu, marco do modernismo português, onde publicou, no primeiro número, Opiário e Ode Triunfal, de Campos, e O Marinheiro, de Pessoa ortónimo, e, no segundo, Chuva Oblíqua, de Fernando Pessoa ortónimo, e a Ode Marítima, de Campos. Publicou, ainda em vida, Antinous (1918), 35 Sonnets (1918), e três séries de English Poems (publicados, em 1921, na editora Olisipo, fundada por si). Em 1934, concorreu com Mensagem a um prémio da Secretaria de Propaganda Nacional, que conquistou na categoria B, devido à reduzida extensão do livro. Colaborou ainda nas revistas Exílio (1916), Portugal Futurista (1917), Contemporânea (1922-1926, de que foi co-director e onde publicou O Banqueiro Anarquista, conto de raciocínio e dedução, e o poema Mar Português), Athena (1924-1925, igualmente como co-director e onde foram publicadas algumas odes de Ricardo Reis e excertos de poemas de Alberto Caeiro) e Presença.

A sua obra, que permaneceu maioritariamente inédita, foi difundida e valorizada pelo grupo da Presença. A partir de 1943, Luís de Montalvor deu início à edição das obras completas de Fernando Pessoa, abrangendo os textos em poesia dos heterónimos e de Pessoa ortónimo. Foram ainda sucessivamente editados escritos seus sobre temas de doutrina e crítica literárias, filosofia, política e páginas íntimas. Entre estes, contam-se a organização dos volumes poéticos de Poesias (de Fernando Pessoa), Poemas Dramáticos (de Fernando Pessoa), Poemas (de Alberto Caeiro), Poesias (de Álvaro de Campos), Odes (de Ricardo Reis), Poesias Inéditas (de Fernando Pessoa, dois volumes), Quadras ao Gosto Popular (de Fernando Pessoa), e os textos de prosa de Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação, Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias, Textos Filosóficos, Sobre Portugal — Introdução ao Problema Nacional, Da República (1910-1935) e Ultimatum e Páginas de Sociologia Política. Do seu vasto espólio foram também retirados o Livro do Desassossego por Bernardo Soares e uma série de outros textos.

A questão humana dos heterónimos, tanto ou mais que a questão puramente literária, tem atraído as atenções gerais. Concebidos como individualidades distintas da do autor, este criou-lhes uma biografia e até um horóscopo próprios. Encontram-se ligados a alguns dos problemas centrais da sua obra: a unidade ou a pluralidade do eu, a sinceridade, a noção de realidade e a estranheza da existência. Traduzem, por assim dizer, a consciência da fragmentação do eu, reduzindo o eu «real» de Pessoa a um papel que não é maior que o de qualquer um dos seus heterónimos na existência literária do poeta. Assim questiona Pessoa o conceito metafísico de tradição romântica da unidade do sujeito e da sinceridade da expressão da sua emotividade através da linguagem. Enveredando por vários fingimentos, que aprofundam uma teia de polémicas entre si, opondo-se e completando-se, os heterónimos são a mentalização de certas emoções e perspectivas, a sua representação irónica pela inteligência. Deles se destacam três: Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos.
Segundo a carta de Fernando Pessoa sobre a génese dos seus heterónimos, Caeiro (1885-1915) é o Mestre, inclusive do próprio Pessoa ortónimo. Nasceu em Lisboa e aí morreu, tuberculoso, em 1915, embora a maior parte da sua vida tenha decorrido numa quinta no Ribatejo, onde foram escritos quase todos os seus poemas, os do livro O Guardador de Rebanhos, os de O Pastor Amoroso e os Poemas Inconjuntos, sendo os do último período da sua vida escritos em Lisboa, quando se encontrava já gravemente doente (daí, segundo Pessoa, a «novidade um pouco estranha ao carácter geral da obra»). Sem profissão e pouco instruído (teria apenas a instrução primária), e, por isso, «escrevendo mal o português», órfão desde muito cedo, vivia de pequenos rendimentos, com uma tia-avó. Caeiro era, segundo ele próprio, «o único poeta da natureza», procurando viver a exterioridade das sensações e recusando a metafísica, caracterizando-se pelo seu panteísmo e sensacionismo que, de modo diferente, Álvaro de Campos e Ricardo Reis iriam assimilar.
Ricardo Reis nasceu no Porto, em 1887. Foi educado num colégio de jesuítas, recebeu uma educação clássica (latina) e estudou, por vontade própria, o helenismo (sendo Horácio o seu modelo literário). Essa formação clássica reflecte-se, quer a nível formal (odes à maneira clássica), quer a nível dos temas por si tratados e da própria linguagem utilizada, com um purismo que Pessoa considerava exagerado. Médico, não exercia, no entanto, a profissão. De convicções monárquicas, emigrou para o Brasil após a implantação da República. Pagão intelectual, lúcido e consciente, reflectia uma moral estoico-epicurista, misto de altivez resignada e gozo dos prazeres que o


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13 de junho de 1888 - Nasce em Lisboa, às 3 horas da tarde, Fernando Antônio Nogueira Pessoa.
1896 - Parte para Durban, na África do Sul.
1905 - Regressa a Lisboa
1906 - Matricula-se no Curso Superior de Letras, em Lisboa
1907 - Abandona o curso.
1914 - Surge o mestre Alberto Caeiro. Fernando Pessoa passa a escrever poemas dos três heterônimos.
1915 - Primeiro número da Revista "Orfeu". Pessoa "mata" Alberto Caeiro.
1916 - Seu amigo Mário de Sá-Carneiro suicida-se.
1924 - Surge a Revista "Atena", dirigida por Fernando Pessoa e Ruy Vaz.
1926 - Fernando Pessoa requere patente de invenção de um Anuário Indicador Sintético, por Nomes e Outras Classificações, Consultável em Qualquer Língua. Dirige, com seu cunhado, a Revista de Comércio e Contabilidade.
1927 - Passa a colaborar com a Revista "Presença".
1934 - Aparece "Mensagem", seu único livro publicado.
30 de novembro de 1935 - Morre em Lisboa, aos 47 anos.